A Aproximação Facial 3D do Crânio Atribuído a São Nicolau de Mira
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Aviso
O presente trabalho é independente, sem vínculo com a instituição que guarda os alegados restos mortais de São Nicolau de Mira, tampouco com as universidades e instituições que os estudaram. O elemento motivador do capítulo é a criação de material didático para o ensino da técnica de aproximação facial, ao testar a possibilidade de se reconstruir uma face utilizando dados originalmente disponíveis em matérias de jornais, mídias online, livros e journals acadêmicos.
Atenção
Caso encontre algum erro no texto, sinta-se à vontade para informá-lo aos autores, o contato pode ser feito via redes sociais acadêmicas informadas no início do capítulo.
Introdução
Quem foi São Nicolau de Mira
São Nicolau de Mira ou São Nicolau de Bari, possuía ascendência grega e seria proveniente de Patara, Ásia Menor (atual Turquia), no Império Romano, onde teria nascido na segunda metade do século III (entre 250 e 270), e falecido entre os anos de 335 e 370 (6 de dezembro segundo o calendário hoje usado no Ocidente, 19 de dezembro no calendário do cristianismo oriental), em Mira, também na atual Turquia [A_Vlavianos_2011] [A_Martino_2024] . Segundo Cioffari (2024), depois da Virgem Maria, trata-se do santo que mais teve o culto difundido na Igreja Católica [A_Cioffari_2024].
Não há muitas informações históricas acerca de sua vida, exceto de que tenha sido Bispo de Mira durante o século IV. A maioria das informações biográficas estão ligadas mais a tradição do que a documentos históricos [A_Vlavianos_2011]. Segundo tal tradição ele teria sido preso durante a perseguição aos cristão perpetrada pelo imperador Diocleciano, por volta do ano 305 [A_Vlavianos_2011] [A_Petruzzello_2024]. Também é abordado que ele teria feito algumas viagens com fins religiosos, como para Alexandria, onde visitou o túmulo do evangelista São Marcos e para Jerusalém, com o objetivo de venerar lugares santos. Em 314, já retornado, é nomeado como o novo Acerbispo de Mira [A_Martino_2024].
Em 325 ele teria viajado até Bizâncio, buscando prestar homenagens à Constatino, o então emperador, e lá foi convocado para o Concílio de Nicéia, onde se discutiria a natureza de Jesus e sua relação com a figura de Deus [A_Martino_2024]. Foi naquela ocasição que teria havia um dos episódios mais populares (e contestados) acerca de São Nicolau, no qual ele teria desferido um golpe no rosto de Ário [A_Petruzzello_2024], que passava por julgamento na ocasião [A_Martino_2024], e se opunha ao conceito da eternidade de Jesus. Há no entanto algumas dúvidas sobre a participação de Nicolau no Concílio, uma vez que documentos antigos com a lista de bispos não contam com o seu nome entre os demais [A_Vlavianos_2011] [A_Kelly_2014], no entanto, parece haver casos de participapantes que lá estiveram e que não foram listados, potencialmente enfraquecendo a certezas acerca da ausência de Nicolau em tal acontecimento [A_Kelly_2014]. Após o Concílio de Nicéia, Nicolau teria viajado até Roma, para prestar homenagens ao Papa Silvestre I (270-335), que havia presidido o evento. Durante o deslocamento passou pela cidade de Bari onde teria profetizado que “Aqui meus ossos descansarão” [A_Martino_2024]. O santo teria falecido em Mira e fora sepultado em uma basílica dedicada a sua memória [A_Vlavianos_2011].
Os Milagres e as Relíquias
Após sua morte, já por volta do século IV a veneração a São Nicolau se popularizou na Grécia e cresceu significativamente em outros países a partir do século VI. Notabilizou-se pela caridade, se tornando o símbolo de presenteador anônimo aos que mais necessitavam [A_Vlavianos_2011]. Uma das passagens tradicionais mais populares é aquela em que um pai desesperado por não dispor de dote às filhas, se viu no limiar de forçá-las a trabalhos forçados ou mesmo a prostituição. Sabendo de tal situação, Nicolau teria jogado bolsas de ouro por três vezes na janela do pai desesperado, uma para cada filha. Quando este descobriu quem era o doador, o santo lhe pediu que mantivesse tudo em segredo [A_Vlavianos_2011] [A_Kelly_2014] [A_de_Varazze_2003].
Com o passar dos séculos a popularidade se foi incrementando, de modo que se espalhou por muitos lugares e com muita força na região da atual Itália. No final do século XI, a região de Myra estava sob domínio de turcos muçulmanos, o que causou temor por parte dos cristãos acerca da integridade dos restos mortais de Nicolau. Em face a esse potencial risco, no ano de 1087 um grupo de aproximadamente sessenta e dois marinheiros advindos de Bari, divididos em três embarcações sob o comandos do timoneiro Giannoccaro, e tendo a bordo dois padres cristãos, chegaram a Antiquoia para o transporte de grãos [A_Cioffari_2024] [A_Martino_2024]. Um grupo fortemente armado se deslocou até Mira, a três milhas, e passando-se por peregrionos, entraram na igreja onde sabidamente se encontraram os restos mortais de Nicolau e lá, rapidamente renderam os monjes guardiões, quebraram o túmulo indicado como local do sepultamento. Ao efetuarem tal ação, testemunharam a presença de uma grande quantidade de liquido, onde os ossos do santo estavam parcialmente submersos. Devido a urgência e risco, coletaram parte dos restos, deixando algumas peças para trás, não sem atestarem que o crânio estava entre a coleta [A_Martino_2024]. Os ossos foram transportados para Bari, que a partir daquele feito, se converteu em um importante centro europeu de peregrinação [A_Petruzzello_2024] e poucos anos depois, já em 1089, a Basílica de São Nicolau em Bari estava erigida e a transferência dos ossos para a capela definitiva teria a presença do então Papa, Urbano II naquele mesmo ano [A_Martino_2024].
De São Nicolau para Papai Noel
A Reforma Protestante, encabeçada por Martinho Lutero (1483-1546) foi um movimento que colaborou com o desaparecimento da devoção a São Nicolau, nos países que abraçaram essa vertente religiosa. Uma exceção notável foi na Holanda, onde a lenda de Sinterklaas (supressão linguística do nome do santo) seguiu forte, inclusive influenciando as colônias daquela nação. Uma destas colônias era a cidade de Nova Amsterdã, hoje Nova Iorque, onde a lenda se anglicizou no nome Santa Claus, descrita como um velho senhor que punia crianças descomportadas e premiava as que apresentavam bom comportamento, com presentes [A_Petruzzello_2024].
A imagem que hoje se conhece do Papai Noel foi baseada na ilustração de Thomas Nast (1840-1902), para a revista Harper’s Weekly no começo de 1863 (Fig. 1), que por sua vez foi inspirado na descrição do poema “A Visit from St. Nicholas” (https://poets.org/poem/visit-st-nicholas), atribuído a Clement Clarke Moore ou Henry Livingston, publicado anonimamente em 1823 e que já apresentava muitas das características atribuídas ao “bom velhinho”, como a aparência “gordinha e rechonchuda”, as bochechas rosadas, um comportamento simpático, o trenó voador puxado por renas, o acesso pela chaminé e um saco de brinquedo nas costas. Após quase sete décadas depois da publicação de Nast, a partir de 1931, a Coca-Cola Company lançava uma campanha com ilustrações de Haddon Sundblom (1899-1976) que apresentava a figura que hoje é amplamente divulgada como a do Papai Noel, ou seja, um senhor de idade avançada, de aparência rechonchuda, com roupa vermelha, cinto preto, decoração em pelos brancos, botas pretas e um gorro vermelho [A_Petruzzello_2024b].
Apesar da complexidade e do caldeirão de culturas que envolvem a evolução dos símbolos natalinos, é bastante evidente a ligação entre São Nicolau de Mira e o Papai Noel [A_de_Ceglia] [A_Kelly_2014] [A_Martino_2024] [A_Vlavianos_2011] [A_Petruzzello_2024] [A_Petruzzello_2024b].
Os Exames Anatômicos de 1953 e 1957
No início dos anos 1950 foram identificadas algumas infiltrações subterrâneas que poderiam comprometer a estrutura da Basílica de São Nicolau em Bari (https://www.basilicasannicola.it/). Por conta das obras de reparo, a cripta contendo os restos de São Nicolau precisaria ser esvaziada rapidamente. O trabalho de retirada dos restos foi organizado por uma comissão especial, sob as ordens do Papa Pio XII [A_Martino_2024]. Na ocasião, a análise dos ossos ficou a cargo do Dr. Luigi Martino (1908 - 2001), professor da Universidade de Bari na Faculdade de Medicina, Farmácia, Ciências Naturais, de Anatomia Humana Normal, Histologia e Embriologia.
Na passagem do dia 5 para 6 de maio de 1953, o Dr. Martino, juntamente com outros especialistas removeram as pesadas lajes que cobriam o túmulo de Nicolau de Mira. Segundo o especialista, ao acessarem o nicho monolítico atestaram que o mesmo, a exemplo do que se passou em 1087, também continha água envolvendo os ossos; o líquido cristalino receberia o nome de maná, cujos relatos foram colhidos ao longo dos séculos [A_de_Ceglia]. O Dr. Martino efetuou uma detalhada catalgação dos restos mortais, que se configuraram em um esqueleto incompleto e enviou os resultados dos levantamentos para o Vaticano [A_Martino_2024].
As obras se estenderam por quatro anos, até 1957, e durante esse período os ossos foram colocados em uma caixa de madeira com uma pequena janela, de modo que os fiéis pudessem visualizar as relíquias. Antes da realocação dos restos à cripta, o Dr. Martido e equipe efetuaram mais um detalhadado estudo anatômico. A análise apresentou uma série de dados métricos como a altura estimada de 1.67 m, entre e outras medidas. Tais dados permitiram a elaboração de uma trivisão coordenada, um conjunto de três planos bidimensionais com informações ortográficas do crânio, que por sua vez permitiram ao especialista traçar um identikit, grosso modo, a representação gráfica de como seria o rosto do santo em vida, que apresentou uma característica marcante: a assimetria nasal [A_Martino_2024].
As Relíquia do Lido de Veneza
No ano de 1992 o Dr. Martino foi convidado a analisar uma pilha de fragmentos ósseos atribuídos a São Nicolau de Mira, sob os cuidados da Igreja de San Nicolò no Lido de Veneza. Tais relíquias teriam sido capturadasem Mira, no ano de 1100 e transportadas para Lido, em uma situação semelhante aquela efetuada pelos marinheiros de Bari alguns anos antes [VisitLido] [A_Martino_2024]. Uma série de seis trabalhos de reconhecimento das relíquias haviam sido efetuados anteriormente, inclusive com a identifcação de um recipiente com maná condensado, mas todos estavam mais ligados à questão religiosa e cerimoniais, sendo assim as autoridades eclesiásticas de Veneza buscaram o contato do Dr. Martino, um acadêmico que havia estudado as relíquias de Bari, buscando uma confirmação mais robusta acerca dos restos mortais. O especialista analisou os ossos, organizou-os e através de um esquema gráfico, ilustrou que havia uma compatibilidade entre os ossos faltantes de Bari e os disponíveis em Lido, o que denotaria o pertencimento a um único esqueleto.
As Reconstruções Faciais
A primeira tentativa de aproximação facial foi o supracitado identikit do Dr. Martino nos anos 1950 [A_Martino_2024].
Na primeira metade dos anos 2000, o Dr. Francesco Introna, especialista em Medicina Legal pela Universidade de Bari encabeçou um projeto que daria uma face 3D a São Nicolau. Utilizando os dados coletados pelo Dr. Martino em 1953-57 (fotografias e radiografias), a especialista reconstrução facial forense Dr. Caroline Wilkinson efetuou uma representação de como poderia ser o rosto de São Nicolau de Mira, em um tom de pele pardo [A_Mahoney_and_Wilkinson_2012]. O trabalho foi apresentado no documentário da Atlantic Productions intitulado “The Real Face of Santa” (https://www.imdb.com/title/tt2032556/).
Dez anos depois, em 2014 uma nova versão, com um tom de pele mais claro foi apresentado, também pela Dra. Caroline Wilkinson em parceria com a Universidade Liverpool John Moores [A_BBC_2014].
A Aproximação Facial de 2024
O presente trabalho nasceu de uma ampla tradição, por parte dos autores, de aproximações faciais envolvendo figuras religiosas da Igreja Católica, algumas com participação direta dos responsáveis pelos restos mortais, como os casos de Santo Antônio de Pádua em 2014 e 2023 [A_Moraes_et_al_2023], Santa Ludmila da Boemia [A_Moraes_et_al_2023b], São Adalberto de Praga [A_Erpen_2024], Santa Catarina de Gênova [A_Erpen_2019] e outras, totalizando mais de 20 santos e beatos (https://www.ciceromoraes.com.br/doc/pt_br/Moraes/RFF_Religiosas.html). Em sua grande maioria, a exemplo deste material, as images resultantes dos processos estão disponíveis sob licença livre Creative Commons.
Materiais e Métodos
A reconstrução facial forense (RFF) ou aproximação facial forense (AFF) [A_Stephan_2015], é uma técnica auxiliar de reconhecimento que reconstrói/aproxima a face de uma pessoa a partir do seu crânio e é utilizada quando há escassa informação para a identificação de um indivíduo [A_Pereira_et_al_2017]. Nota-se que a técnica não se trata de identificação, como aquelas oferecidas por DNA ou análise comparativa de arcos dentários, mas sim de reconhecimento que pode levar à posterior identificação [A_Baldasso_et_al_2020].
Todo o trabalho disponível neste capítulo foi efetuado utilizando software livre e gratuito, majoritamente no ambiente do Blender 3D, através do addon OrtogOnBlender [A_Moraes_et_al_2020], que por sua vez conta com um submódulo específico para AFF, intitulado ForensicOnBlender.
Inicialmente buscou-se reconstruir o crânio em 3D, tal processo foi efetuado utilizando os dados estruturais presentes no livro “Le Reliquie di S. Nicola” [A_Martino_1987], de autoria do Dr. Muigi Martino e cuja autorização um dos autores (C.M) solicitou via e-mail ao Pe. Gaetano Gerardo Cioffari, do Centro Studi Nicolaiani (http://www.centrostudinicolaiani.it/), que gentilmente o permitiu.
O crânio resultante foi alinhado ao plano de Frankfurt e passou pela projeção das estruturas do osso e tecido mole fornecidas pela ferramenta do OrtogOnBlender que utiliza os dados de uma série de medições efetuadas em tomografias de indivíduos vivos [A_Moraes_and_Suharschi_2022]. Como se trata de um trabalho de reconstrução indireta, não foi possível aferir com total clareza a estrutura craniana, mas a mesma parecia contar com alguns alvéolos o que denotaria a presença dos dentes no momento da morte. O modelo utilizado indicou que a posição da mandíbula poderia ser corrigida, sendo levemente mais aborta, para se adequar a projeção estatística, então essa correção foi efetuada para aumentar a coerência anatômica baseada em tal modelo (Fig. 2). Para uma compreensão prática do funcionamento da solução, duas videoaulas sobre projeções estruturais estão disponíveis de modo online em: aula 1, aula 2.
O passo seguinte consistiu na distribuição de marcadores de tecido mole, referente a um grupo de indivíduos do sexo masculino de 60 a 69 anos [A_De_Greef_2006]. Para a projeção nasal foi utilizada a abordagem complementar proposta por [A_Moraes_2021]. Uma video aula sobre a técnica de projeção nasal pode ser acessada de modo online.
O crânio apresentou uma estrutura significativamente mais estendida no eixo X (horizontal) do que o esperado, em face desta carasterística o posicionamento dos globos oculares respeitou a mais a proporção (linhas em azul) do que a média (linhas em verde) (Fig. 4).
Para complementar os dados das projeções anteriores, a malha de um doador virtual, composta pela crânio e tecido mole foi importada e alinhada na cena (Fig. 5). Tal malha é a base para o processo de deformação anatômica, que consiste em ajustar a estrutura até que o crânio do doador se compatibilize ao crânio cuja face será aproximada [A_Quatrehomme_et_al_1997].
Como a modificação é feita em vários pontos da cabeça, com uma esfera de influência decrescente, ao se ajustar a malha total focando no crânio, espera-se que, como aconteceu neste caso, o rosto ajustado se compatibilize com o perfil traçado a partir das projeções (Fig. 6). Uma videoaula abordando a deformação anatômica pode ser acessada de modo online.
Um busto básico é gerado da interpolação dos dados das projeções e da deformação anatômica, resultando em uma estrutura significativamente robusta (Fig. 6).
Os dados relacionados a projeção nasal respeitam uma média de idade populacional, que se encontra abaixo da faixa etária do crânio atribuído a São Nicolau, sendo assim, a rotação da ponta do nariz é ajustada para refletir as mudanças que podem ocorrer com o passar dos anos, extrapolando os dados de [A_Shastri_et_al_2021].
A etapa seguinte envolve os detalhes mais finos de escultura digital para a criação das linhas de expressão, a configuração dos pelos e cabelos e ajuste da indumentária (Fig. 9).
A etapa final consistiu na pigmentação da pele e dos cabelos, cruzando dados da iconografia e trabalhos anteriores de aproximação facial. Após a geração da imagem, os detalhes faciais foram incrementados pelo uso de IA, através da solução CodeFormer [A_Zhou_et_al_2022], tomando-se o devido cuidado para tal processo manter a estrutura original da face, sem desconfigurá-la (Fig. 10).
Resultados e Discussão
Foram geradas 6 imagens no processo de renderização: 1) Três com os elementos mais objetivos face, sem pelos e cabelos, em escala de cinza e com os olhos fechados, desta forma evita-se apresentar detalhes dos quais não há maior certeza (Fig. 11, Fig. 12, Fig. 13). 2) Três com elementos mais artísticos e especulativos, como a coloração da pele, pelos e cabelos, coloração e forma dos olhos e indumentária (Fig. 14, Fig. 15, Fig. 16).
O resultado das renderizações evidenciam que um nariz assimétrico, como é o caso do crânio aproximado, pode gerar estruturas faciais ligeiramente diferentes, dependendo do ponto de vista. Os elementos artísticos e mais subjetivos como a barba ocultam significativamente a face, podendo desconfigurar o indivíduo, dando a impressão de que se trata de outra pessoa. No entanto, o presente caso curiosamente gerou uma imagem compatível com a primeira gravura do Papai Noel, aquela de 1863 que fora por sua vez baseada em um pema que descrevia um rosto largo ou amplo (broad face). Um estuto efetuado em 2019 que comparou um osso pertencente ao esqueleto atribuído a São Nicolau, com um indivíduo moderno, de idade semelhante (aproximadamente 70 anos) e saudável, indicou que a relíquia apresenta uma densidade 168% maior do que o segundo [A_Rubuni_et_al_2019]. Junte-se tal informação a estrutura claramente robusta do crânio e pode-se inferir que, há a possibilidade de se tratar de um indivíduo com forte compleição física. Pertencendo o crânio a São Nicolau ou não, o fato é que a complexidade do desenvolvimento histórico e cultura ao longo destes séculos, pode permitir que, eventualmente, algumas coincidências sejam produzidas.
Conclusão
O presente capítulo objetivou apresentar uma aproximação facial forense a partir de dados disponíveis digitalmente. Aplicando uma metodologia estabelecida anteriormente, foi possível apresentar novas imagens em um trabalho com licença aberta e que pode motivar estudos e debates, além de evidenciar um pouco da história de São Nicolau de Mira e dos supostos restos mortais do santo.
Agradecimentos
Ao Dr. Richard Gravalos, por ceder a tomografia computadorizada utilizada neste estudo. Ao Pe. Gaetano Gerardo Cioffari que gentilmente autorizou o uso dos dados presentes na obra do Dr. Luigi Martino. Ao Sr. Antonio Rana, auxiliou-nos na busca de informações presenciais em Bari, Itália.
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