Padronização de Pontos e Medidas para Antropometria 3D no OrtogOnBlender¶
Cristiane Pereira Lopes Residente de Cirurgia Plástica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo-SP
Rodrigo Dornelles Cirurgião Plástico, Núcleo de Plástica Avançada - NPA, São Paulo-SP
Nivaldo Alonso Professor Associado da FMUSP, São Paulo-SP
Cicero Moraes 3D Designer, Arc-Team Brazil, Sinop-MT
DOI |
O objetivo deste capítulo é descrever, padronizar e validar as medidas lineares, angulares e volumétricas obtidas por monofotogrametria por meio de smartphone utilizando o add-on OrtogOnBlender em voluntários saudáveis e em pacientes com Síndrome de Parry Romberg. Depois de realizada esta fase inicial, outras deformidades craniofaciais e outras assimetrias corporais serão avaliadas da mesma maneira.
Importante
Este material utiliza a seguinte licença Creative Commons: Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).
Introdução¶
A Síndrome de Parry-Romberg (SPR), também conhecida como Atrofia Hemifacial Progressiva (AHP), descrita por Parry em 1825 [CH] e depois por Romberg em 1846 [MH], não possui etiopatogênese definida, sendo indagados prováveis processos autoimunes e neurogênicos. O diagnóstico da SPR é clínico. Ocorre uma atrofia unilateral progressiva da face [BO], podendo envolver toda a hemiface. Essa atrofia ocorre na pele, tecido celular subcutâneo, musculatura, nervos, cartilagens e ossos [MWD+] [EAL].
O tratamento a ser empregado, depende da idade, complexidade, presença de alterações funcionais. Ele deve ser realizado quando se considera a doença estável (2 anos após o término da progressão) [RCC]. O tratamento cirúrgico mais utilizado, seguro e aceito nas duas últimas décadas é o preenchimento com gordura autóloga, procedimento pouco mórbido, sem perdas funcionais, sem risco de rejeição ou extrusão, custo menor, com resultados mais naturais [MWD+] [RCC] [RCA+] [ATB] [RCCC].
No planejamento destas cirurgias, a definição das áreas a serem preenchidas e a quantificação do deficit de volume em comparação com o lado não alterado, se tratam de pontos chave para o sucesso do tratamento [RE]. Desta forma, o desenvolvimento de novas tecnologias para avaliação das características tridimensionais da face, preferencialmente não invasivas, permitiu um avanço na mensuração da assimetria facial destes pacientes [VCM+] e uma melhora no planejamento cirúrgico [MWD+], assim como uma análise quantitativa pós-operatória de mudanças de medidas lineares, de superfície e volumétricas, conforme discorrido a seguir.
As medidas por antropometria direta possuem algumas desvantagens, como o gasto de tempo para tomada de medidas, possível interferência sobre tecidos moles da face e a necessidade de colaboração do paciente. Medidas lineares e angulares com as fotografias bidimensionais, podem criar problemas de distorção e magnificação, variações de iluminação e de distância da câmera ao objeto, além da inadequação para avaliação de objetos tridimensionais (perspectiva, profundidade e volume) [CNea] [FPG+] [DVA+] [RAUJ]. Além disso, a avaliação e comparação de resultados com este método por um avaliador, são extremamente subjetivas [DSJL] [RAUJ].
A tomografia é um método de alto custo e expõe o paciente à radiação. No escaneamento com laser, podem ocorrer artefatos de movimento devido ao tempo de captura e há necessidade de fechamento ocular para não expor os olhos ao laser, o que pode interferir na mímica facial. A estereofotogrametria tridimensional permite a aquisição de imagens com tempo de captura curto, alta resolução, sem exposição à radiação [dFN] [CNea] [FPG+] [DVA+] [RAUJ]. Porém sua desvantagem apontada com maior frequência é o alto custo [dEJN].
Com a introdução de smartphones de nova geração, amplamente disponíveis, com pelo menos duas câmeras e aplicativos adequados, as técnicas modernas de escaneamento tridimensional facial podem se tornar mundialmente disponíveis e com custo menor do que os métodos tradicionais de estereofotogrametria. O procedimento de escaneamento facial é seguro, não invasivo, sem contato físico entre o sujeito e o smartphone. Além disso, as medidas faciais automatizadas permitem um procedimento mais rápido de escaneamento da face, e também mais conforto e rapidez de aquisição das medidas. Existem várias evidências na literatura da acurácia do escaneamento facial por estereofotogrametria, porém não há relato sobre a acurácia do escaneamento facial realizado com aplicativos de celular [GLP].
Descrição dos Pontos¶
Pontos Antropométricos¶
Os autores optaram por utilizar a nomenclatura em inglês para disponibilizar a ferramenta desenvolvida para o uso internacional, abrangendo, assim, maior número de usuários.
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Medidas Lineares¶
Medidas Verticais¶
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Medidas Oblíquas¶
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Medidas Horizontais¶
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Medidas Angulares¶
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Desenvolvimento da Ferramenta¶
O OrtogOnBlender é um add-on para o estudo de planejamento de cirurgia ortognática baseado em tecnologia de código aberto. Por conta do aumento constante da base de usuários e da demanda de ferramentas incompatíveis com o escopo inicial, outros módulos foram desenvolvidos ao longo dos últimos anos, a citar o RhinOnBlender, para planejamento de rinoplastia e o ForensicOnBlender para a reconstrução facial forense a partir de crânios.
Além dos dois abordados, há também o módulo CompareOnBlender que inicialmente oferecia uma opção para comparação de pré e pós cirúrgico baseado em 17 pontos antropométricos. Utilizando como base a abordagem de pontos fundamentada no início deste capítulo foi desenvolvida uma opção com os 29 pontos, medidas e ângulos descritas anteriormente.
Para acessar os comandos é necessário que o usuário vá até a aba Comp, expanda o menu Compare Points e em Select selecione a opção 29 Points.
A interface do sistema é dividida em quatro partes:
Cursor e Select para alternar a forma que o clique do mouse se comportará;
Botões para inserção dos pontos anatômicos;
Ocultação e visualização dos nomes e dos próprios pontos anatômicos;
Gerador de planilha e gráfico com valores.
Ao ser colocado o ponto, o botão correspondente ao mesmo é desabilitado de modo a facilitar o processo. Nota-se que o texto com o nome do ponto pode se tornar um problema, posto que polui a visualização da cena (Fig. 3).
Uma vez que o usuário posicionou os pontos e conferiu o nome dos mesmos, ele pode ocultar os nomes em Hide Names, assim os pontos ainda ficam visíveis e a cena despoluída (Fig. 4).
O processo é finalizado clicando-se no botão GENERATE SPREADSHEET.
Em alguns segundos o gerenciador de arquivos padrão do sistema operacional vai ser aberto apresentando os dois arquivos resultantes do processo (Fig. 5).
Um dos arquivos nomeado CompareOnBlender.xlsx é uma planilha contendo todas as medidas e ângulos, além do Fator de Assimetria (AF) com a porcentagem de diferença entre as medidas simétricas (Fig. 6).
O outro arquivo, nomeado CompareOnBlender_base.jpg é uma prancha com gráficos representando os pontos e os valores das medidas e ângulos (Fig. 7).
É possível observar todos as informações dos valores com elementos visuais que podem auxiliar na checagem, bem como fornecer mais uma mídia para apresentar e armazenar os dados levantados (Fig. 8).
Testando os Resultados¶
De modo a testar os resultados, foram criados dois estados para a face estudas: uma com deformação simulando a Síndrome de Parry-Romberg (shape keys via RhinOnBlender) e outra mantendo o volume original (Fig. 9).
Ao serem comparadas, as duas planilhas apresentam valores significativamente diferentes, sendo o Fator de Assimetria da simulação notoriamente superior ao rosto original (Fig. 10).
Uma vez que os dados foram armazenados em uma planilha, o usuário ou o estatísticos terão a liberdade de incrementar com mais informações, cálculos e abordagens, segundo a necessidade do estudo em questão.
Conclusão¶
Com a automatização das medidas por meio do add-on OrtogOnBlender, podemos realizar grande número de medidas de forma objetiva, em curto espaço de tempo, com baixo custo, de forma não invasiva, mantendo a precisão, enquanto estas medidas sem auxílio do software, dispenderiam esforço e tempo inestimável.
Além disso a flexibilidade da solução permite que a mesma possa ser utilizada em outras abordagens envolvendo estudos com a face humana, não se limitando ao escopo deste estudo.
Agradecimentos¶
Ao Dr. Davi Sandes Sobral, por ceder a digitalização facial utilizada neste capítulo.
- ATB
Kasielska-Trojan A, Zieliński T, and Antoszewski B. Autologous fat transfer for facial recontouring in parry-romberg syndrome. J Cosmet Dermatol. 2020;19(3):585-589. doi:doi:10.1111/jocd.13072.
- BO
Rogers BO. Progressive facial hemiatrophy: romberg’s disease: a review of 772 cases. Proc 3d Int Cong Plast Surg Excerpta Medica ICS. 1964;66:681-689.
- CH
Parry CH. Collections from the unpublished medical writings of the late caleb hillier parry. Vol 2. Underwoods; 1825.
- CNea(1,2)
Tzou CHJ, Artner NM, and Pona I et al. Comparison of three-dimensional surface-imaging systems. J Plast Reconstr Aesthetic Surg. 2014;67(4):489-497. doi:10.1016/j.bjps.2014.01.003.
- DVA+(1,2)
Gibelli D, Pucciarelli V, Cappella A, Dolci C, and Sforza C. Are portable stereophotogrammetric devices reliable in facial imaging? a validation study of vectra h1 device. J Oral Maxillofac Surg. 2018;76(8):1772-1784. doi:doi:10.1016/j.joms.2018.01.021.
- dEJN
Ladeira PRS de, Bastos EO, Vanini JV, and Alonso N. Uso da estereofotogrametria nas deformidades craniofaciais: revisão sistemática. Rev Bras Cir Plástica. 2013;28(1):147-155. doi:10.1590/s1983-51752013000100025.
- DSJL
MIRANDA RE DE, MATAYOSHI S, BRABO JL, and MIYOSHI LH. Use of stereophotogrammetry for measuring the volume of external facial anatomy: a systematic review. Rev Bras Cir Plástica – Brazilian J Plast Sugery. 2018;33(4):572-579. doi:10.5935/2177-1235.2018rbcp0180.
- dFN
Dornelles R de FV and Alonso N. New virtual tool for accurate evaluation of facial volume. Acta Cir Bras. 2017;32(12):1075-1086. doi:10.1590/s0102-865020170120000009.
- EAL
Buchanan EP, Xue AS, and Hollier LH. Craniofacial syndromes. Plast Reconstr Surg. 2014;134(1):128e-153e. doi:10.1097/PRS.0000000000000308.
- FPG+(1,2)
Dindaroǧlu F, Kutlu P, Duran GS, Görgülü S, and Aslan E. Accuracy and reliability of 3d stereophotogrammetry: a comparison to direct anthropometry and 2d photogrammetry. Angle Orthod. 2016;86(3):487-494. doi:10.2319/041415-244.1.
- GLP
Swennen GRJ, Pottel L, and Haers PE. Custom-made 3d-printed face masks in case of pandemic crisis situations with a lack of commercially available ffp2/3 masks. Int J Oral Maxillofac Surg. 2020:1-5. doi:0.1016/j.ijom.2020.03.015.
- MH
Von Romberg MH. Trophoneurosen: in romberg: klinische ergebnisse. Berlin, Forstner. 1846:75-81.
- MWD+(1,2,3)
Kim MJ, Jeong WS, Jeon DN, Choi JW, and Kim DH. Comprehensive three-dimensional technology strategies for autologous free fat graft in parry-romberg syndrome. J Craniofac Surg. 2020;31(1):64-67. doi:10.1097/SCS.0000000000005855.
- RCA+
Denadai R, Raposo-Amaral CA, Pinho AS, Lameiro TM, Buzzo CL, and Raposo-Amaral CE. Predictors of autologous free fat graft retention in the management of craniofacial contour deformities. Plast Reconstr Surg. 2017;140(1):50e-61e. doi:10.1097/PRS.0000000000003440.
- RCC(1,2)
Denadai R, Raposo-Amaral CA, and Raposo-Amaral CE. Fat grafting in managing craniofacial deformities. Plast Reconstr Surg. 2019;143(5):1447-1455. doi:doi:10.1097/PRS.0000000000005555.
- RCCC
Denadai R, Buzzo CL, Raposo-Amaral CA, and Raposo-Amaral CE. Facial contour symmetry outcomes after site-specific facial fat compartment augmentation with fat grafting in facial deformities. Plast Reconstr Surg. 2019;143(2):544-556. doi:doi:10.1097/PRS.0000000000005220.
- RAUJ(1,2,3)
Enciso R, Shaw A, Neumann U, and Mah J. 3d head anthropometric analysis. Proc SPIE - Int Soc Opt Eng. 2003;5029. doi:10.1117/12.479752.
- RE
Losee JE Rodriguez ED, Neligan PC. Plastic surgery: craniofacial, head and neck surgery and pediatric plastic surgery. Vol 3. Elsevier Health Sciences; 2012.
- VCM+
Pucciarelli V, Baserga C, Codari M, Beltramini GA, Sforza C, and Giannì AB. Three-dimensional stereophotogrammetric evaluation of the efficacy of autologous fat grafting in the treatment of parry-romberg syndrome. J Craniofac Surg. 2018;29(8):2124-2127. doi:doi:10.1097/SCS.0000000000004664.