A Aproximação Facial Forense de Ivan, o Terrível (1530-1584)

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Cicero Moraes
3D Designer, Arc-Team Brazil, Sinop-MT, Brasil - Bacharel em Marketing, Dr. h. c. FATELL/FUNCAR (Brasil) e CEGECIS (México) - Membro da Mensa Brasil e da Intertel - Revisor convidado: Elsevier, Springer Nature, PLoS e LWW - Guinness World Records 2022: First 3D-printed tortoise shell.
Data da publicação: 15 de julho de 2024
ISSN: 2764-9466 (Vol. 5, nº 2, 2024)

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Este material utiliza a seguinte licença Creative Commons: Atribuição 4.0 Internacional (CC-BY 4.0).

Aviso

O presente trabalho é independente, sem vínculo com a instituição que guarda os restos mortais de Ivan, o Terrível, tampouco com as universidades e instituições que estudaram-no. O elemento motivador do capítulo é a criação de material didático para o ensino da técnica de aproximação facial, ao testar a possibilidade de se reconstruir uma face utilizando dados originalmente disponíveis em matérias de jornais, mídias online, livros e journals acadêmicos.

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Caso encontre algum erro no material, sinta-se à vontade para informá-lo ao autor, o contato pode ser feito via redes sociais acadêmicas informadas no início do capítulo.

Introdução

Quem foi Ivan, o Terrível

‘Meu entendimento era infame e meu espírito corrupto, assim também minha mente estava contaminada pela apreciação por coisas indignas, minha boca por palavras de assassinato, lascívia e outros atos maus, minha língua por auto-elogio, minha garganta e peito por orgulho e arrogância, minhas mãos por contatos indecentes, por roubo e assassinato, meu impulso interior por falta de vergonha, libertinagem e bebida, minha barriga por graves ofensas da carne e uma prontidão para cometer todo tipo de mal…’ - Ivan IV (1572) [D_Gerasimov_1971].

Ivan Vassilievich, também conhecido pelo epíteto de “o Terrível” (Grozny) e coroado como Ivan IV, nasceu em 25 de agosto de 1530, na localidade de Kolomenskoye, próximo a Moscou, Rússia [D_Andreyev_2024]. O pai de Ivan, Vassily III (daí o sobrenome Vassilievich) faceleu em 1533, tornando o filho com 3 anos idade em grão-duque de Moscou e fazendo com que a mãe, Yelena Glinskaya, assumisse o controle do Estado até que Ivan atingisse a maioridade [D_Jota_1994]. Ela governou por cinco anos, falecendo em 1538, supostamente envenenada. Entre a morte da mãe e a coroação de Ivan, houve uma intensa disputa pelo poder entre a nobresa, o que causou uma profunda impressão no jovem grão-duque [D_Andreyev_2024] que abandonado a própria sorte, parece ter sido muito mal tratado pela corte, sendo inclusive vítima de castigos corporais. É possível que tal realidade o tivesse impelido a desenvolver um comportamento violento, que dentre outras coisas consistia em castigar pequenos animais [D_Rezzutti_2024], como o ato de atirar cachorros do alto de muralhas [D_Jota_1994]. Paralelamente, Ivan teve uma grande ligação com a religião do Estado, sendo grande devoto e recebendo forte influência de Macário, o bispo de Moscou. Este vislumbrava a Rússia como uma futura Roma e insistiu que o jovem fosse coroado com o título de czar (tsar), cujo termo remonta ao de césar de Império Romano [D_Jota_1994]. O evento aconteceu em 16 de janeiro de 1547, quando Ivan foi coroadodo como “czar e grande príncipe de toda a Rússia” [D_Andreyev_2024], sendo o primeiro a receber a receber o título, marcando uma tradição que duraria 370 anos, até a queda de Nicolau II provocada pelos revolucionários de 1917.

Pouco depois da coroação, em 3 de fevereiro de 1547, desposou Anastácia Romanova [D_Jota_1994], com ela teve seis filhos e dentre eles apenas dois sobreviveram à infância, Ivan Ivanovich e Fedor Ivanovich. Anastácia faleceu em 1560, sob condições que despertaram em Ivan a desconfiança de que sua esposa havia sido envenenada [D_Nogueira_2019] e o acontecimento parece ter causado profunda dor ao czar, pois se entregou a uma vida regada ao consumo exacerbado de bebidas e à volúpia [D_Jota_1994]. Casou-se mais seis ou sete vezes, dependendo dos parâmetros utilizados, mas aparentemente não teve grandes alegrias, pois os matrimônios findaram-se das mais variadas e trágicas formas, envolvendo potencial envenenamento, morte precoce, infertilidade e segregação em convento, expulsão para um mosteiro, adultério e adultério seguido de afogamento [D_Nogueira_2019].

Após o episódio de entrega aos prazeres mundanos, Ivan declarou a intenção de abandonar o posto, o que gerou um movimento de apoio e, para que lá se mantesse, impôs algumas condições que culminaram na divisão interna da Rússia no anos de 1565 em dois territórios, a Zemschina, administrada pelos nobres e a Oprichnina, sob o julgo de Ivan. Foi nesse momento que ele criou a temida oprichniki, uma guarda composta por 6.000 homens trajados de preto, que dentre várias ações violentas, perpetraram em 1570 o cerco a Novgorod, deixando uma trilha de destruição e assassinato, nascendo assim o epíteto de “Terrível”, atrelado até hoje ao nome do czar [D_Jota_1994].

Apesar dos limites do território russo ter se expandido durante o reinado de Ivan, ele também se envolveu em campanhas malsucedidas, como o supracitado cerco à Novgorod, que abriu a Rússia para a marcha dos tártaros da Criméia e o incêndio de Moscou [D_Jota_1994], além da guerra da Livônia (atuais Letônia e Estônia), uma confronto que durou 24 anos, exaurindo os recursos e provando-se infrutífera, terminando em um armistício com a Polônia em 1582, mediado por Antonio Possevino, núncio (mensageiro, diplomata) do Papa Gregório XIII [D_Andreyev_2024]. Apesar de tudo Ivan conseguiu suprimir os tártaros, reconquistar Moscou e reestruturar o Estado russo, além de formar as bases para a conquista da Sibéria [D_Jota_1994] e trabalhar com afinco para estabelecer boas relações diplomáticas [D_Andreyev_2024]. Contudo, a fama de emocional e psiquicamente instável parece ter se apropriado do soberano, deixando marcas que perduram até os dias atuais.

Uma das manifestações de crueldade teria envolvido a construção da Catedral da Intercessão da Santíssima Virgem do Fosso, popularmente conhecida como Catedral de São Basílico e um dos cartões postais de Moscou. Segundo a lenda, depois de finalizada a obra por volta de 1560, Ivan se viu encantado pela mesma e perguntou ao arquiteto Postnik (ou Barma), se ele poderia fazer um templo mais bonito e mais magnífico do que aquele, ao que o especialista respondeu afirmativamente. Logo depois, o arquiteto teria sido cegado, a mando do czar, não podendo assim fazer nada mais belo ou magnífico do que aquela obra. No entanto, tudo indica que essa passagem é fruto de uma lenda nascida fora da Rússia, já no século XVII e depois popularizada em forma de poema, publicado em 1938. Além do mais, evidências documentais sugerem que o arquiteto continuou trabalhando depois da obra, portanto, com as faculdades visuais plenas [D_Manaev_2023].

Outro episódio geralmente lembrado, envolvendo o soberano e a sua instabilidade mental, é aquele em que, depois de pilhar a nora, grávida, em trajes que julgou indignos, Ivan teria espancado-a provocando a morte do bebê. Indignado com o ocorrido, Ivan Ivanovich (o filho) vai tomar satifações com o pai e é também alvo de extrema violência, recebendo um forte golpe com o cetro em sua cabeça e morrendo em decorrência do ferimento [D_Rezzutti_2024]. Conta-se que Ivan pai ao ver o filho desmaiado proferiu as palavras “Maldito seja! Eu matei meu filho!”, e na sequência, em um intervalo lúcido do que poderia ser um hematoma epidural, o rebento disse as suas últimas palavras: “Eu morro como um filho devotado e o servo mais humilde” [D_Borroto_2024]. O ocorrido foi imortalizado em um quadro, pintado em 1885 por Ilya Repin (Fig. 50), em uma cena que sintetiza o desespero do momento, curiosamente lembrando outra obra, pintada por Goya em 1823, nomeada “Saturno devorando um filho” (Fig. 51), com toda a sua carga arquetípica saturnina da continuidade do pai em detrimento dos filhos, subvertendo o que seria a ordem natural da reprodução e continuidade.

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Fig. 50 “Ivan, o Terrível e seu filho”, pintura de Ilya Repin (1885). Fotografia de Pierre André Leclercq, disponível na Wikimedia Commons (https://bit.ly/3xQfssr), obra sob domínio público. Em 1913 quadro foi alvo de um ataque onde três facadas rasgaram a região das faces de Ivan IV e seu filho, tornando a obra ainda mais impactante visual e historicamente, passando por posterior restauração (https://bit.ly/3Yaw60y). Em 2018 foi alvo de outro ataque com uma barra de metal, novamente restaurada e recolocada em exibição no ano de 2022, fazendo com que a fama de “pintura arrepiante” perdure com o passar dos séculos.

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Fig. 51 “Saturno devorando um filho”, pintura de Francisco de Goya (1823). Fotografia de Crisco 1492, disponível na Wikimedia Commons (https://bit.ly/3S2ae3F), obra sob domínio público.

Ao que tudo indica, a evidência documental acerca do assassinato de Ivan Ivanovich se apoia em uma obra de Antonio Possevino, o núncio do Papa que trabalhou na mediação da guerra da Livônia em 1582. No entanto, a história não veio de uma investigação cuidadosa, mas de rumores políticos na corte e no exército poloneses. Em um livro publicado por Possevino anos depois, em 1586, é abordada a versão mais popular atualmente, onde o czar golpeia a nora e posteriormente o filho, mas há outras versões, também fonte de boatos, onde o motivo da briga entre os envolvidos não foi o traje da nora, mas o desejo do filho de levar seu próprio exército para uma batalha corrente e frente a negativa do pai, o filho caiu em uma crise epilética, seguida de febre e então morreu [D_Bushkovitch_2014]. Além disso, em 1963 foi efetuado um trabalho de exumação dos corpos de Ivan e do seu filho; se por um lado não foi possível observar se havia ou não alguma lesão ante mortem no crânio do jovem, posto que a estrutura se desintegrou, por outro lado o as condições dos ossos de Ivan IV mostravam que ele estava com a mobilidade muito reduzida nos últimos anos de vida, privando-o da agilidade necessária para golper a nora e o filho com tamanha violência. Foi feita também uma análise de elementos tóxicos e ainda que os valores de arsênico estivessem dentro do esperado, os de mercúrio estavam muito mais alto do que as taxas de normalidade, indicando um possível uso de medicamentos a base do metal líquido para tratar algumas condições relacionadas a saúde do czar, dentre elas a sífilis [D_Gerasimov_1965] [D_Podkolzina_2009]. Na época não se tinha uma ideia clara acerca da toxicidade do mercúrio e o mesmo, junto com outros elementos como o arsênico, era amplamente utilizado por cidadãos da elite moscovita, principalmente para fins medicinais, sem que cuidados em relação à exposição fossem tomados, isso explicaria a alta concentração dos componentes nos corpos dos membros da família e do próprio czar [D_Golovin_2018].

Com a saúde debilitada, os movimentos limitados em um corpo significativamente acima do peso e uma mente plena de desilusão e sofrimento, Ivan, o Terrível, faleceu no dia 18 de março de 1584, deixando uma Rússia muito mais centralizada administrativa e culturalmente do era antes do seu reinado [D_Andreyev_2024].

A Análises dos Restos Mortais de 1963

No começo da década de 1960 uma série de restaurações foi efetuada na Catedral do Arcanjo do Kremlin, envolvendo profissionais dos mais variados campos: arquitetos, historiadores, antropólogos e médicos forenses. Aproveitou-se a situação para que o corpo de alguns nobres fossem exumados e estudos, dentre eles Ivan, o Terrível e seus dois filhos Ivan e Fyodor. Segundo relato de M. M. Gerasimov, que trabalhou diretamente na exumação, os três crânios tiveram perdas estruturais, sendo o de Ivan Ivanovich o mais crítico, pois havia se desintegrado, e o de Ivan IV se encontrava mal preservado, com a base da região temporal direita completamente destruída. Havia um rumor de que este último teria sido envenenado, mas como abordado anteriormente, a quantidade de arsênico encontrada em seu corpo estava dentro dos padrões de normalidade e a grande quantidade de mercúrio seria explicada pela sua saúde debilitada pelos excessos na alimentação e no consumo de álcool e o uso medicinal de tal elemento, inclusive para um potencial quadro de sífilis, no entanto não havia vestígios de tal doença nos ossos do czar. A estrutura da cartilagem tieroidéia, bem preservada, também refutou os boatos de que ele teria sido estrangulado por seus favoritos, Bogdan Belsky e Boris Gudnov. Além disso, o esqueleto indicava um homem de 1.78-1.80 m de altura, pesando entre 85-95 Kg, com uma estrutura que denotava um corpo forte e bem treinado desde a infância, o que corroborava com descrições efetuadas entre 1567 e 1577, onde indicava-se que ele “era alto, seu corpo era cheio de força e bastante gordo”. Documentou-se também algumas assimetrias ósseas, como a dos do torço, dos olhos, onde o esquerdo era maior do que o direito, a clavícula direita mais curta e a omoplata direita maior e mais maciça. Gerasimov também encontrou numerosas formações de osteófitos, que teriam limitado significativamente a mobilidade de Ivan, o Terrível, além de provocarem muita dor. Em relação à ancestralidade, Ivan estaria próximo ao grupo Dinárico, inerente aos eslavos, mas que outras caracterpisticas como o formato das órbitas e do nariz, indicavam a influência do sul da Europa no seu sangue [D_Gerasimov_1965] [D_Gerasimov_1971]. Uma curiosidade sobre as arcadas de Ivan IV, é a de que ele tinha não apenas todos, ou quase todos os dentes no momento em que morreu, mas contava contava com um dente extra (ou supranumerário), no que se conhece como hiperodontia [D_Khaldeyeva_2022]. Gerasimov fez uma réplica do crânio e de alguns ossos de Ivan IV e depois de um exame minucioso na ossada, procedeu com o trabalho de aproximação facial forense, escolhendo retratá-lo com a obesidade que teria marcado o final da vida dele [D_Gerasimov_1971]. Depois de efetuados os trabalhos de análise e replicação, os restos mortais foram tratados com substâncias que mantivessem a sua estrutura e colocados novamente nos seus túmulos, com proteção mineral, conforme aparece em um vídeo filmado na época.

Materiais e Métodos

Conceitos, Software e Hardware

A reconstrução facial forense (RFF) ou aproximação facial forense (AFF) [D_Stephan_2015], é uma técnica auxiliar de reconhecimento que reconstrói/aproxima a face de uma pessoa a partir do seu crânio e é utilizada quando há escassa informação para a identificação de um indivíduo [D_Pereira_2017]. Nota-se que a técnica não se trata de identificação, como aquelas oferecidas por DNA ou análise comparativa de arcos dentários, mas sim de reconhecimento que pode levar à posterior identificação [D_Baldasso_2020].

O presente trabalho utiliza o mesmo passo-a-passo abordado em [D_Abdullah_2022] e [D_Moraes_2024], iniciado com a configuração do crânio na cena 3D, seguindo com a projeção do perfil e estruturas da face a partir de dados estatísticos, gerando o volume do rosto com o auxílio da técnica de “deformação” anatômica [D_Quatrehomme_1997] e o acabamento com o detalhamento da face, configuração dos cabelos, da indumentária e geração das imagens finais.

O processo de modelagem foi efetuado no software Blender 3D, rodando o add-on OrtogOnBlender (http://www.ciceromoraes.com.br/doc/pt_br/OrtogOnBlender/index.html) e seu submódulo ForensicOnBlender [D_Pinto_2020], ambos desenovolvidos pelo autor do presente material. O programa e o add-on são gratuitos, de código aberto e multiplataforma, podendo rodar no Windows (>=10), no MacOS (>=BigSur) e no Linux (=Ubuntu 20.04).

Foi utilizado um computador desktop com as seguintes características: Processador Intel Core I9 9900K 3.6 GHZ/16M; 64 GB de memória RAM; GPU GeForce 8 GB GDDR6 256-bit RTX 2070; Placa mãe Gigabyte 1151 Z390; SSD SATA III 960 GB 2.5”; SSD SATA III 480 GB 2.5”; Water Cooler Masterliquid 240V; Linux 3DCS (https://github.com/cogitas3d/Linux3DCS), baseado no Ubuntu 20.04.

Atenção

Além da AFF o OrtogOnBlender é utilizado para o planejamento de cirurgia ortognática [D_Cunha_2020] [D_Lobo_2022], rinoplastia [D_Sobral_2021], fraturas mandibulares [D_Facanha_2021], expansores mandibulares de bebês [D_Duarte_2023], documentação urológica [D_Nascimento_2023], próteses veterinárias [D_Taub_2024], próteses faciais [D_Salazar_2022] e outros, por usuários de 30 países, contemplando 4 continentes.

Aproximação Facial Forense

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Fig. 52 Reconstrução 3D do crânio e colocação dos marcadores de espessura de tecido mole.

Para executar uma AFF é imprescindível que se tenha o crânio do indivíduo, no caso de Ivan IV há uma série de imagens e vídeos disponíveis em artigos e matérias sobre o tema, que permitiram projeções bidimensionais a partir de imagens com perspectiva. Foi possível fazer projeções nas vistas fontal (eixos X e Z), lateral (Y e Z) e superior ou topo (eixos X e Y) (Fig. 52, A). A escala foi ajustada utilizando como referência a medida do busto e uma imagem onde aparece uma composição do rosto completo de um lado e o crânio do outro; ao se cruzar os dados foi possível ajustar à escala real. O crânio de um doador virtual foi ajustado de modo que se conformasse às esturturas de referência (Fig. 52, B). Uma série de pontos anatômicos foram indicados para a projeção de estruturas esperadas para o crânio e para o tecido mole (Fig. 52, C), de modo que permitisse a visualização do posicionamento dos globos oculares, nariz, orelha, boca, etc., tudo baseado em medidas efetuadas em tomografias de pessoas vivas [D_Moraes_2021] [D_Moraes_2022]. Duas videoaulas sobre a metodologia de projeção estão disponíveis de modo online em: aula 1, aula 2. Para os marcadores de espessura do tecido mole (Fig. 52, D), foi escolhida uma tabela de medidas relacionadas a europeus do sexo masculino com alto IMC [D_De_Greef_2006].

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Fig. 53 Etapas da aproximação facial forense.

A projeção nasal foi efetuada utilizando três dados diferentes, a projeção utilizada pelo método russo, pelo método de Manchester e pela metodologia complementar desenvolvida pelo autor do presente trabalho junto a uma equipe de especialistas, utilizando medidas efetuadas em tomografias computadorizadas de pessoas vivas e advindas de ancestralidades diferentes [D_Moraes_2021b]. Uma video aula sobre a abordagem pode ser acessada de modo online. Com os dados da espessura de tecido mole e projeção nasal, foi possível efetuar o traçado do perfil da face (Fig. 53, E). Para complementar os dados estruturais, a tomografia de um doador virtual, reconstruída no próprio OrtogOnBlender [D_Moraes_2021c], foi ajustada de modo que o crânio do doador se equiparasse ao de Ivan IV (Fig. 53, F), refletindo a deformação no tecido mole e, logo, gerando uma face estruturalmente próxima ao que seria em vida [D_Quatrehomme_1997]. Seguindo a abordagem disponível em [D_Abdullah_2022], o busto de outra aproximação facial foi reutilizado, sendo deformado sobre os dados interpolados das projeções e da deformação anatômica (Fig. 53, G). Na sequência as marcas de expressão foram esculpidas digitalmente, visando compatibilizar a face com a idade do czar no momento da sua morte (Fig. 53, H).

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Fig. 54 Etapas finais da aproximação facial forense.

A etapa final consistiu em configurar os cabelos e indumentária (Fig. 54, I), além da pigmentação da pele, dos olhos e da iluminação da cena para a geração das imagens finais (Fig. 54, J). O trabalho de Gerasimov, efetuado da década de 1960 não conta com uma representação colorida, apenas uma estátua monocromática, então buscou-se na literatura alguma referência para a criação da versão artística e elementos especulativos da aproximação facial. Segundo texto composto pelo historiador Karamzin, Ivan IV seria “alto e esguio; tinha ombros altos , músculos fortes, peito largo, cabelos lindos, bigode comprido, nariz romano, olhos pequenos e cinzentos, mas leves, penetrantes, cheios de fogo…” [D_Karamzin_1816]. Em relação aos cabelos, há relatos de que seriam ruivos como o de sua mãe [D_Badyanov_2024] e que teriam iniciado o processo de agrisalhamento por conta da idade. Infelizmente não parece ter sobrado nenhuma imagem colorida do período em que o czar era vivo, na verdade tudo indica que resta apenas uma, gravada em uma encadernação impressa em 1564, em relevo e portanto sem cores, descoberta em 2017 graças à técnica de fotografia multiespectral [D_Cosmos_2017].

Resultados e Discussão

Ao todo foram geradas 9 imagens finais, três objetivas sem pelos e sem cabelos, três coloridas sem pelos e cabelos e três coloridas com pelos, cabelos e indumentária. As imagens objetivas ilustram o rosto com os olhos fechados, pois não se sabe com certeza o formato dos mesmos, além de não apresentarem a pigmentação da pele, pelos e cabelos, dos quais também não foram encontrados dados robustos (Fig. 55, Fig. 57, Fig. 57). Outro grupo apresenta apenas a face, colorida e com os olhos abertos, mas sem cabelos e sem indumentária (Fig. 58, Fig. 59, Fig. 60). Como o presente projeto está relacionado ao campo arqueológico e histórico, dentro de um contexto de pesquisa e divulgação, é esperado que se crie uma imagem com elementos artísticos e especulativos, como a configuração dos cabelos, indumentária, etc., o que foi abordado no terceiro grupo (Fig. 61, Fig. 62, Fig. 63).

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Fig. 55 Imagem objetiva - 3/4.

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Fig. 56 Imagem objetiva - Frontal.

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Fig. 57 Imagem objetiva - Perfil.

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Fig. 58 Imagem rosto limpo colorido - 3/4.

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Fig. 59 Imagem rosto limpo colorido - Frontal.

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Fig. 60 Imagem rosto limpo colorido - Perfil.

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Fig. 61 Imagem artística - 3/4.

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Fig. 62 Imagem artística - Frontal.

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Fig. 63 Imagem artística - Perfil.

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Fig. 64 Moraes em cinza e Gerasimov em amarelo.

Foi gerada uma imagem comparativa entre a aproximação do trabalho atual e daquele efetuado por Gerasimov em 1963, com significativa compatibilidade entre as duas, exceto na região abaixo do lábio inferior. Uma possível explicação pode ser o uso de diferentes tabelas de marcadores de profundidade de tecido entre as aproximações, pois o crânio não parece indicar prognatismo mandibular (Fig. 54).

Conclusão

O presente capítulo foi bem sucedido em aproximar uma face a partir de dados disponibilizados digitalmente, fornecendo imagens novas e um trabalho com licença aberta, para ser acessado, estudado e debatido pelo público geral e por especialistas das áreas tangenciadas.

Agradecimentos

Ao Dr. Richard Gravalos, por ceder a tomografia computadorizada utilizada neste estudo. Ao escritor Paulo Rezzutti por criar a aula em vídeo [D_Rezzutti_2024] que inspirou a criação do presente material, além de gentilmente avaliar e revisar o texto. Ao Dr. Rodrigo Dornelles e ao Dr. Davi Sandes Sobral por também avaliarem e revisarem o texto.

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