Confeccionando um Guia para Retirada de Cisto Dentário com o OrtogOnBlender

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  • Cicero Moraes 3D Designer, Arc-Team Brazil, Sinop-MT

  • Roosevelt Macedo Cirurgião BMF, Clínica Statto, Sinop-MT

  • Gabriela Alonson Cirurgiã BMF, Clínica Santa Izabel, Sinop-MT

  • Carlos Augusto Abascal Shiguihara Médico Veterinário, Clínica Santa Izabel, Sinop-MT

  • Everton da Rosa Cirurgião BMF, Hospital de Base, Brasília-DF

DOI

https://doi.org/10.6084/m9.figshare.13256816


O presente capítulo tem por objetivo apresentar um caso onde a ferramenta OrtogOnBlender permitiu a criação de um guia cirúrgico para extração de um cisto dentário, ampliando assim a precisão do procedimento bem como o incremento da sua segurança.

Importante

Este material utiliza a seguinte licença Creative Commons: Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).

Introdução

O uso de novas tecnologias em odontologia tem auxiliado os cirurgiões-dentistas na obtenção de resultados melhores e mais confiáveis nos procedimentos desta especialidade. O OrtogOnBlender (OOB) [MdRD20] tem se destacado como uma excelente ferramenta no ensino do planejamento de cirurgias ortognáticas, traumatologia maxilofacial, arqueologia entre outros. Neste capítulo será demonstrado o workflow para a utilização de um guia cirúrgico obtido por impressão 3D auxiliando o cirurgião na localização anatômica precisa de uma lesão dentária periapical (cisto radicular) em um dente molar superior, contribuindo para obtenção de um melhor resultado.

O cisto radicular é o mais comum dos cistos odontogênicos [Tom02]. Segundo Lindhe et al., 1999 sua prevalência corresponde à cerca de 60% dos cistos da maxila e da mandíbula [LKL99]. A terceira e a quarta décadas de vida apresentam uma destacada prevalência [dFReS00]. O cisto radicular consiste de uma cavidade patológica forrada por epitélio originário dos restos epiteliais de Malassez com líquido em seu interior, envolvendo o ápice de um dente presente na cavidade bucal e está relacionado com infecção da câmara pulpar e do canal radicular provocada pela cárie dentária [SMB87] [dAdA94]. Este cisto origina-se a partir de um granuloma periapical com epitélio preexistente, cronicamente inflamado, intra-ósseo, no ápice de um dente sem vitalidade [RS00] [SMB87]. Os cistos dos maxilares geralmente são tratados cirurgicamente pelas técnicas de enucleação (remoção total da lesão) e/ou marsupialização (remoção parcial da lesão), realizando-se o tratamento endodôntico (tratamento de canal) prévio [LL98].

Levantamento dos Dados

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Tomografia Cone Beam da região de interesse, segmentação do cisto e dos dentes.

Foi efetuada uma tomografia computadorizada Cone Beam (Fig. 1 à esquerda) na região de interesse que compreendia principalmente os dentes 25, 26 e 27. Uma vez digitalizada, a tomografia foi importada no software Slicer v. 4.81 [Sli20]. A segmentação do cisto foi efetuada pela ferramenta GrowCutEffect [Doc20a] presente no módulo Editor, bastando fornecer ao software informações sobre a área a ser segmentada (cisto) e a área a ser excluída (ossos e demais tecidos), traçando duas linhas com cores distintas nas regiões pretendidas (de reconstrução e de exclusão). O processo de pintura cria um label, ou seja um rótulo, uma identificação das áreas de interesse em cada slice (fatia) onde o cisto se fará presente, mas para converter essa sequência de pinturas em um volume é necessário recorrer ao módulo Model Maker [Doc20b], indicar o label e reconstruí-lo em um objeto 3D (Fig. 1 ao centro). No entanto, não basta reconstruir apenas o cisto, é necessário digitalizar mais estruturas, como as regiões mais densas dos dentes e canais (Fig. 1 à direita), bem como os ossos em geral, de modo a fornecer os dados necessários para a criação do guia de perfuração, que será abordado mais a frente.

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Digitalização das arcadas e alinhamento com os modelos reconstruídos a partir da tomografia.

A malha reconstruída a partir da tomografia computadorizada fornece muitas informações importantes, principalmente as internas como as raízes dos dentes e o próprio cisto (Fig. 2, B). No entanto, é comum que na reconstrução dos dentes a malha apresente problemas como os artefatos ou outras irregularidades por conta do contraste na escala hounsfield. Para contornar esse problema e fornecer uma boa superfície para a criação do guia, foi efetuada uma digitalização 3D intraoral com luz estruturada nas arcadas do paciente (Fig. 2, A). A digitalização intraoral foi alinhada ao modelo da fotogrametria dentro do OrtogOnBlender (Fig. 2, C) resultando em um modelo mais simples e limpo, mas com os dados da raiz do dente 25 junto com o cisto, ambos segmentados a partir da tomografia (Fig. 2, D).

Confecção do Guia

A criação do guia apresentado neste capítulo consiste na formação de uma estrutura que permita a perfuração da região do cisto ao mesmo tempo que que se encaixe nos dentes, permitindo ao cirugião que acesse a região de interesse de modo mais preciso e seguro.

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Passo-a-passo esquemático da criação do guia em 3D.

Em linhas gerais é necessário identificar espacialmente onde se encontra o cisto (Fig. 3, A). Em seguida criar a estrutura que servirá para a perfuração do osso, de modo a acessar o cisto. É importante que a os canto do acesso forneçam um alinhamento que auxilie o cirurgião a mover o equipamento de modo objetivo (Fig. 3, B). A próxima estrutura a ser criada é aquela que encaixará o guia nos dentes e para que a mesma seja bem estável é imprescindível que se encaixe em mais de um dente, neste caso nos três, de modo a ficar bem fixa no momento do acesso ao cisto (Fig. 3, C). A etapa final é criar as hastes que unirão a estrutura de acesso à estrutura de fixação (Fig. 3, D).

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Guia cirúrgico final.

O guia gerado permite um encaixe firme nos dentes e uma visão clara da região que será perfurada. A base da peça é lisa e o encaixe dos dentes é possível graças a subtração da intersecção da peça com os dentes através de cálculos booleanos (Fig. 4).

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Criação da estrutura de perfuração.

Cada parte do guia foi modelada de uma maneira. A estrutura de perfuração do osso (Fig. 5 da esquerda para a direita) foi modelada a partir de uma primitiva box achatada em um dos eixos. A estrutura foi posicionada em frente ao cisto e cortada de fora a fora por projeção de linhas com as ferramentas Subtract IN e Subtract OUT, até formar o volume final.

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Criação da estrutura de encaixe.

A estrutura de encaixe (Fig. 6 da esquerda para a direita) também foi modelada a partir de uma box deformada, mas no lugar do fatiamento fois ajustada com as ferramentas de escultura digital disponíveis no software de modelagem.

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Criação das hastes do guia.

A criação das hastes foi efetuada com a ferramenta Draw Line Tube (Fig. 7 da esquerda para a direita) pela inserção de pontos que se converteram em um tubo redimensionável e editável, de modo que o usuário possa alterar o raio do mesmo, bem como ajustar os pontos da linha bézier.

Impressão 3D e Procedimento Cirúrgico

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Impressão do guia e procedimento cirúrgico.

O guia digital passa por uma preparação e é impresso finalmente em 3D, utilizando para tal uma impressora de resina. A peça resultante do processo (Fig. 8, A) é então testada no paciente antes da cirurgia para que haja tempo de efetuar eventuais correções (Fig. 8, B). Uma vez que tudo se mostre funcional, a peça recebe um tratamento de desinfecção e é preparada para a cirurgia. O procedimento foi efetuado e o guia cumpriu com o seu propósito de fornecer ao cirurgião informações espaciais para o acesso ao cisto (Fig. 8, C a D).

Conclusão

O OrtogOnBlender mostrou-se uma ferramenta apta para a criação de guia cirúrgico para a retirada de cisto dentário.

dAdA94

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3D Slicer Documentation. Modelmaker. 2020. URL: https://www.slicer.org/wiki/Modules:GrowCutSegmentation-Documentation-3.6.

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Cicero Moraes, Everton da Rosa, and Rodrigo Dornelles. OrtogOnBlender - Documentação Oficial vol. 3. Cicero André da Costa Moraes, 2020. ISBN 9786500053494. doi:10.6084/m9.figshare.12871730.v1.

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Tom02

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