A Aproximação Facial de uma Vítima da Batalha de Gotland (1361)

The Facial Approximation of a Victim of the Battle of Gotland (1361)



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Cicero Moraes
3D Designer, Arc-Team Brazil, Sinop-MT
Thiago Beaini
Cirurgião Dentista, Professor Assistente - Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG
Thomas Hvashøj Steffensen
Seção de Ortodontia, Departamento de Odontologia, Saúde, Universidade de Aarhus, Holanda
Michel Dalstra
Seção de Ortodontia, Departamento de Odontologia, Saúde, Universidade de Aarhus, Holanda

Data da publicação: 30 de outubro de 2022
ISSN: 2764-9466 (Vol. 3, nº 2, 2022)
ISBN: 978-65-00-50229-9
DOI: 10.6084/m9.figshare.21432384

Atenção

Este material utiliza a seguinte licença Creative Commons: Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).

Resumo

O presente artigo aborda o trabalho de aproximação facial forense de uma vítima da Batalha de Gotland, ocorrida em 1361 na ilha de mesmo nome, localizada na Suécia. Além de reconstruir o aspecto do indivíduo em vida, o trabalho buscou apresentar o ferimento recebido por um objeto cortante, ao ser golpeado na região frontal da face.

Abstract

This article presents the forensic facial approximation work of a victim of the Battle of Gotland, which took place in 1361 on the island of the same name, located in Sweden. In addition to reconstructing the aspect of the individual in life, the work sought to present the wound received by a sharp object, when being struck in the frontal region of the face.

A full translated online version of this article can be accessed at this link: https://bit.ly/3zFjTUC

Introdução

Gotland é uma ilha localizada no atual território do Reino da Suécia, popularmente conhecida pelo sangrento conflito ocorrido em 29 de julho de 1361, a chamada Batalha de Gotland [C1] [C17] [C18] [C19] [C20].

Os primeiros sinais de vida em Visby foram datados por volta de 3000 a.C., mas a data exata de quando foi construída em uma cidade é desconhecida, provavelmente próximo de 800 d.C. por conta do crescente comércio com os dinamarqueses, suecos e alemães. Também foi importante para os alemães funcionando como uma parada antes de rumarem para os Estados Bálticos e Novgorod. Assim, a principal população de Visby era alemã, convertendo-a em uma cidade dominante da Liga Hanseática.

A relação hostil com os fazendeiros de Gotland foi um dos principais motivos para a edificação da muralha da cidade. A batalha de Visby deve ser considerada como um evento único em relação à estratégia de Valdemar IV de reunificar a Dinamarca após a falência e a criação de dívida por seu pai, o rei Cristóvão II. Valdemar IV fez em 1359 um acordo com o rei sueco Magnus Eriksson sobre a conquista de seu filho, Erik Erikson, que governava o sul da Suécia. No entanto, Valdemar IV aproveitou o conflito interno sueco e em 1360 conquistou Scania, Halland e Blekinge para que se tornassem parte do reino dinamarquês. Depois disso, ele continuou sua missão de ampliar o território a Dinamarca também reivindicando Oland em 1361 e depois Visby em Gotland.

Acredita-se que Valdemar IV e seu exército chegaram a Gotland, inicialmente em 22 de julho de 1361 a sudeste de Visby. Os cidadãos alemães que viviam em Visby permaneceram passivos, então os agricultores que habitavam o restante de Gotland tiveram que enfrentá-los. Os fazendeiros nunca haviam sido organizados em uma armada e eram muito inexperientes contra um exército dinamarquês bem equipado e treinado. Os agricultores não conseguiram dar a resistência necessária contra o exército superior dinamarquês, sendo derrotados três vezes. Acredita-se que a primeira batalha ocorreu quando o exército dinamarquês chegou a Gotland por mar e escavações arqueológicas mostraram que a segunda batalha foi em Mästerby antes de chegarem a Visby em 29 de julho.

Achados arqueológicos podem dar uma ideia de como a batalha foi travada. Um grupo de 2.000 agricultores ficaram entre a muralha defensiva do castelo de Visby e o mosteiro local, de modo que os flancos foram cobertos. Lesões de esqueletos e ossos cranianos mostram que o exército de Valdemar usava bestas, que na época era uma arma deveras assustadora por conta de suas flechas letais. Mais tarde, a tática do exército de Valdemar foi atacar, num primeiro momento, as pernas dos oponentes com espadas e machados, pois os mesmos dispunham de armaduras para seus corpos, mas as pernas se encontravam desprotegidas e logo, vulneráveis aos ataques.

As escavações revelaram 1185 soldados caídos, todos enterrados no cemitério de Solberga, onde fizeram uma cruz de pedra calcária para lembrar os mortos e que ainda hoje se encontra no local. Após a batalha os soldados foram enterrados em valas comuns com suas roupas, armaduras e armas. O primeiro de todos os quatro famosos achados arqueológicos foi feito em 1905, o segundo em 1912 e depois em 1928 e 1930. Tal acervo se destaca mundialmente por conta de seus materiais, crânios e esqueletos ainda bem conservados.

Pouco depois da batalha, Valdemar perdeu o domínio sobre Gotland, mas o recuperou em 1366 como parte de uma estratégia diplomática maior. Depois disso, Gotland permaneceu no reino dinamarquês até 1645, quando a Suécia conquistou seu domínio. Depois de 1645 a importância da cidade caiu até que em 1800 se tornou conhecida pela literatura medieval e turismo. A batalha de Visby aumentou o conhecimento da guerra das eras medievais e em tempos atuais, é considerada um banho de sangue, mas infelizmente essa era a realidade das batalhas travadas na época.

Em 2014 o Museu de História de Estocolmo (Historiska) inaugura a mostra O massacre no muro - a batalha de Gotland 1361, na qual apresenta elementos que marcaram o conflito e que impressionaram significativamente os visitantes, como pode ser atestado nas palavras da antropóloga Katrin Friberg:

O termo massacre no título da exposição cria uma espécie de antecipação pesada e desagradável, sei que o que me espera é uma história de batalha sangrenta e morte súbita maligna. Massacre é exatamente o que foi o evento, e esta exposição consegue contar a história dele e ao seu redor de forma criativa, inteligente e comovente. Há também um alerta sobre o material que pode assustar as crianças e, de fato, grande parte do conteúdo da exposição (constituída, entre outras coisas, por esqueletos das grandes valas comuns deixadas pelo evento), é repugnante de se ver. No entanto, o mais assustador e cativante é a história sobre os objetos que a exposição conta.

No ano de 2020 o mesmo museu pública em seu perfil do Sketchfab, uma rede social para o compartilhamento de modelos tridimensionais interativos, um crânio de uma vítima da batalha de Visby intitulado Cranium with injuries - 260727, sob licença Creative Commons e com a opção de baixar o arquivo texturizado em vários formatos populares no campo da edição e impressão 3D . Tal modelo serviu como base para o trabalho aqui exposto.

Materiais e Métodos

Exame do Crânio

O crânio digital em formato .OBJ foi baixado e examinado em ambiente digital, seguindo o protocolo de exame de crânio abordado por Vanrell 2009 [C2].

Exame das Peças Ósseas

Aspecto da ossada: Escaneamento de crânio humano com dimensões reduzidas na proporção 1/10. O crânio foi ampliado para exibir escala natural no programa Blender por meio de comando (S+10). Número de ossos. 2 conjuntos de ossos: Crânio e Mandíbula Material a examinar (relatar):

O exame qualitativo [C3], descrito na Tabela 1 resultou em um indivíduo do sexo masculino.

Tabela 1 Crânio - Exame Qualitativo

Crânio

Homem

Mulher

Frontal

▣ Inclinado para trás

▢ Vertical

Glabela

▣ Saliente (arco supra-ciliar)

▢ Não saliente

Articulação fronto-nasal

▣ Angular

▢ Curva

Arco supra-ciliar

▣ Redondo

▢ Angulado

Processos mastóides e estilóides

▣ Bem desenvolvida (Crânio estável)

▢ Pouco desenvolvida (Crânio instável)

Peso do crânio

Não Disponível

Côndilo occiptal

▣ Longos e estreitos

▢ Curtos e largos

Tabela 2 Mandíbula - Exame Qualitativo

Mandíbula

Homem

Mulher

Mandíbula

▣ Robusta

▢ Delicada

Côndilos

▣ Robustos

▢ Delicados

Exame Descritivo

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Fig. 28 Em vista Frontal, crânio exibindo fraturas na região anterior da maxila e lateral esquerda mandibular; em norma lateral, fratura na região do processo alveolar da maxila no lado direito. Em vista de topo, o escaneamento exibe boa captura das suturas cranianas externas; em norma basal, fraturas na região posterior do côndilo occipital; em detalhe, o sítio de trauma da mandíbula com desgaste na raiz do dente 36 e raiz residual do dente 34.

Aspecto: Crânio Humano com traços marcantes de anatomia Traço(s) de fratura (s): Sim, sinais claros de trauma corto-contundente na região anterior da maxila e nas regiões dos dentes 34, 35 e 36.

Ossos envolvidos: O trauma da região superior provocou fratura na base do processo alveolar desde a região do dente 11, com saída na região da raiz mesial do dente 16. Internamente a fratura percorreu a sutura palatina, o forame palatino e base do processo alveolar com separação total do fragmento. Também há sinal de fratura na região da base do crânio. O trauma na região dos dentes 34 e 35 causou fratura do dente 34, com presença do remanescente radicular dentro do alvéolo. Os dentes 11, 21, 22 e 35 foram avulsionados em decorrência do impacto. A raiz do dente 36 apresenta lesão por contato com objeto corto-contundente. Houve perda post-mortem dos dentes 13 e 42.

Observações complementares: A ausência de processo reparativo nas raízes dos dentes afetados sugere que o trauma ocorreu em momento próximo à morte do indivíduo.

Exame Qualitativo

Sexo: Utilizando os dados expostos na Tabela 4 de Medidas Cranianas, o Índice Condílio (IC) resultou em 39,71, uma vez que o valor valor está abaixo de 50, indica o masculino. O índice do forame mágno resultou em 58, uma vez que o valor é maior do 35, indica o sexo masculino.

Ancestralidade [C4]: O Índice Cefálico Horizontal (ICH) resultou em 70mm, sendo menor do que 74,9 é classificado como dolicrânio. O índice Cefálico Sagital resultou em 70,05 mm, estando entre os valores 75 e 69 é classificado como mesocrânio. O Índice Cefálico Posterior resultou em 96,35 mm, estando entre os valores 98 e 91,9, é classificado como metriocrânio. O índice prosopométrico resultou em 64,33, sendo maior que 55 é classificado como dolicofacial caucasiano. O ìndice Nasal resultou em 52,17, estando entre 47.9 e 53, é classificado como mesorrino mongólico, no entanto, tal índice foi comprometido pela ausência de estrutura óssea. O perfil da face resultou em 81º, sendo menor do que 81º é classificado como prognato. O índice da mandíbula resultou em 103º, indicando que o indivíduo contava com mais de 35 anos.

Tabela 3 Avaliação das suturas

Coronal

Porção superior

▣ Apagada

▢ Não apagada

Porção média

▢ Apagada

Não apagada

Porção inferior

▢ Apagada

Não apagada

Sagital

Porção superior

▢ Apagada

▢ Não apagada

Porção média

Apagada

▢ Não apagada

Porção inferior

Apagada

▢ Não apagada

Sagital

Porção superior

▢ Apagada

▢ Não apagada

Porção média

▢ Apagada

Não apagada

Porção inferior

▢ Apagada

Não apagada

A Avaliação das Suturas [C5] indica se tratar de um adulto jovem.

Tabela 4 Medidas Cranianas

Medida

Referência

Valor (mm)

Largura craniana

Eurio-Eurio

131,8

Largura bizigomática

Zígio-Zígio

131,7

Altura craniana posterior

Básio-Bregma

126,99

Comprimento craniano

Glabela-Metalambda

181,29

Compr. côndilo occipital dir.

C.Cônd.D

20,5

Compr. côndilo occipital esq.

C.Cônd.E

20,5

Larg. côndilo occipital dir.

L.Cônd.D

8,14

Larg. côndilo occipital esq.

L.Cônd.E

8,14

Altura da face

Násio-Próstio

65,44

Largura da face

Malar-Malar

101,72

Largura nasal

LN

24,52

Altura nasal

Násio-Espinhal

47

Básio-násio

BN

71,88

Básio-próstio

BP

54,34

Meato auditivo externo/ espinha nasal anterior

MAE/ENA

114,24

Meato auditivo externo/ lambda

MAE/L

118,54

Largura Forame Magno

32,11

Comprimento Forame Magno

37,39

Estatura

Arco

20,66

Estatura

Corda

16,01

Odontograma: Desgaste oclusal significativo indica dieta de alimentos duros com indícios de idade mais avançada (Fig. 29).

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Fig. 29 Odontograma. Legenda: P, presente; X, dente desaparecido; O, alvéolo vazio “post mortem”; F, fraturado; R, restaurado; C, cariado.

Aproximação Facial Forense

A reconstrução facial forense (RFF) ou aproximação facial forense (AFF) [C9] é uma técnica auxiliar de reconhecimento, utilizada quando há escassa informação para a identificação de um indivíduo [C6]. Nota-se que a técnica não se trata de identificação, como aquelas oferecidas por DNA ou compatibilidade de arcadas dentárias, mas de reconhecimento que pode levar à posterior identificação.

O presente trabalho utiliza o mesmo passo-a-passo abordado em Abdullah et al. (2022) [C7] e Moraes et al. (2022) [C8], iniciado com a complementação das regiões faltantes do crânio, seguindo com a projeção do perfil e estruturas da face a partir de dados estatísticos, gerando o volume do rosto com o auxílio da técnica de deformação anatômica e o acabamento com o detalhamento da face, configuração dos cabelos e geração das imagens finais.

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Fig. 30 Clusters populacionais apresentando o crânio original (Gotland 1), dentro do espectro de ancestralidade asiática e o crânio corrigido (Gotland 2) dentro do espectro da população européia.

A aproximação facial foi efetuada dentro do software Blender 3D, através do add-on ForensicOnBlender [C10] que fornece uma série de ferramentas específicas para a abordagem aqui exposta. O crânio foi importado para uma cena digital e alinhado ao plano horizontal de Frankfurt, recebendo correção na oclusão, pois a mandíbula se encontrava levemente deslocada (Fig. 31, A), Como haviam regiões faltantes no osso nasal e maxila (Fig. 31, B), um trabalho de reconstrução estrutural a partir de um doador virtual foi implementada, resultando em um crânio completo (Fig. 31, C). O gabarito de projeção nasal [C11] foi utilizado para atestar a conformação do osso nasal dentro da média e desvio padrão esperados (Fig. 31, D). Ao se corrigir o osso nasal e plotar o gráfico de clusters populacionais [C12] com as medidas do crânio tal como foi originalmente baixado (Gotland 1) e posteriormente com a esturtura corrigida (Gotland 2), atesta-se que a falta de volume posicionava o crânio no meio de clusters de origem asiática, ao passo que posteriormente a correção, posicionou em clusters de origem européia (Fig. 30), isso explica o motivo do crânio gerar afinidade com a população asiática na etapa anterior, quando efetuadas as mensurações na região nasal (mesorrino mongólico).

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Fig. 31 Etapas da aproximação facial forense.

A etapa seguinte consistiu na distribuição de marcadores de espessura do tecido mole, seguindo a tabela levantada em indivíduos vivos de origem européia [C13], seguido da projeção lateral do nariz [C11] e da face (Fig. 31, E e F). Em seguida uma série de pontos foram distribuídos ao longo da face, de modo a projetar as posições esperadas de elementos do tecido mole e dos ossos [C11] [C14] [C15]. A parir de tais projeções foi possível atestar que a mandíbula do indivíduo era menor do que a média e a projeção esperadas, evidenciando prognatismo classe II (Fig. 31, G). Para complementar os dados das projeções, a tomografia de um doador virtual foi importada e deformada, ao compatibilizar-se o crânio do doador com o do indivíduo a ser reconstruído e estendendo tal deformação/adaptação ao tecido mole, que se adequou de modo muito compatível às projeções efetuadas anteriormente, denotando coerência anatômica (Fig. 31, H. I, K e L). Para evitar retrabalho, uma aproximação facial anterior foi reaproveitada, tendo a sua estrutura deformada para se adequar à aproximação facial do crânio de Gotland (Fig. 31, J). O material, cabelos, barba a textura (Fig. 31, M) foram ajustados para compatibilizarem-se com o propósito do atual trabalho.

Resultados e Discussão

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Fig. 32 Aproximação facial forense com elementos objetivos.

Foram trabalhadas duas abordagens relacionadas a aproximação facial, uma mais objetiva e científica e outra mais subjetiva e artística. A abordagem científica consistiu em um busto dotado dos elementos intimamente ligados aos aspectos estatísticos da aproximação e uma vez que a etapa inicial do processo foi composta apenas por dados colhidos de tomografias e mensurações de indivíduos vivos e de população compatível, foi possível gerar uma face anatomicamente coerente e, para reduzir a incompatibilidade na região da órbita, foram geradas imagens com os olhos fechados, assim como para evitar especulações acerca da tonalidade da pele, a coloração escolhida foi a escala de cinza (Fig. 32).

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Fig. 33 Aproximação facial forense com elementos subjetivos e especulativos, como a coloração da pele, dos olhos e forma e coloração da barba, da sobrancelha e dos cabelos.

A abordagem mais artística consiste em uma imagem com os olhos abertos, com barba e cabelos e colorida (Fig. 33). Ainda que contenha elementos especulativos acerca da aparência do indivíduo, por se tratar de um trabalho que será apresentado ao público geral, fornece os elementos necessários para uma humanização completa, muito difícil de se conseguir apenas com a exposição do crânio e deficiente na imagem objetiva em escala de cinza e com os olhos fechados.

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Fig. 34 Etapas da composição da lesão.

Ainda que o crânio possua outras duas lesões, a principal delas, causada na altura da mandíbula é notória pela violência envolvida (Fig. 34, A). Um plano foi adicionado, de modo a compatibiliza-se com a linha de ação do objeto cortante em um espaço tridimensional. Pela documentação disponível acerca da Batalha de Gotland, a arma mais compatível com tal lesão é um machado, de modo que o mesmo foi modelado segundo as dimensões apresentadas pelo plano de corte (Fig. 34, B). Tal modelo foi deslocado à posição final do corte (Fig. 34, C) e a face ajustada, de modo conformar a lâmina em sua posição final (Fig. 34, D).

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Fig. 35 Posicionamento do machado no crânio, com o tecido mole e sem o machado para ilustrar a região atingida.

Tal ajuste consistiu na escultura de uma corte compreendendo desde a região da asa nasal direita, até pouco mais de um centímetro abaixo do cheillion esquerdo, resultando em um conjunto de imagens impactantes, ilustrando de modo claro a violência empregada no momento do corte, corroborando com as palavras da antropóloga Katrin Friberg, quando descreveu o massacre que foi a Batalha de Gotland, de como tal evento ao mesmo tempo que causa horror ao observador, também o cativa, provocando empatia pelas vítimas.

Conclusão

A aproximação facial forense se mostrou uma poderosa ferramenta para a geração de material ilustrativo para a apresentação de outros elementos que não apenas o rosto do indvíduo, mas também, no caso específico deste trabalho, de violência sofrida no momento do óbito, corroborando com outros estudos como Gaytán et al. (2009) [C16] e Fischer (2018).

Agradecimentos

Ao Museu de História de Estocolmo (Historiska), por compartilhar o modelo digital do crânio de modo interativo e disponibilizado para download no perfil da instituição no Skechfab. Ao Dr. Richard Gravalos por ceder a tomografia do doador virtual, utilizada na deformação anatômica.

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